Doce Veneno, Capítulo 10


Vim pra lhe encontrar, dizer que sinto muito
Você não sabe o quão amável você é
Tenho que lhe achar, dizer que preciso de você
E te dizer que eu escolhi você
Conte-me seus segredos, faça-me suas perguntas
Oh, vamos voltar pro começo
Correndo em círculos, perseguindo a cauda
Cabeças numa ciência à parte

Um sentimento estranho subiu ao longo do corpo de Maysa. Como que instantaneamente correu para a área de serviço e encheu um balde d'água. Correu de volta para o quarto do irmão e despejou a água fria sobre o corpo semi-nu de Flávio.
- TOMA ISSO, SEU CANALHA! - berrou ao tirar a coberta que envolvia os dois e jogar a água por cima de Flávio - COMO VOCÊ PODE FAZER ISSO COM MEU IRMÃO? SE APROVEITAR DA FRAGILIDADE DELE? E PIOR, SE APROVEITAR DA MINHA BOA VONTADE?
Caetano acordou com os gritos e alguns respingos da água molhando seu lado da cama. Flávio já estava de pé, se recuperando do susto e tentando acalmar Maysa
- Maysa, eu posso explicar... - enquanto ele se aproximava, ela recuava cada vez mais
- FORA DAQUI!
- Mas Maysa, eu...
- FORA DAQUI! AGORA! - ela voltou na sala, pegou os sapatênis e jogou com toda força contra Flávio. - PEGA SUAS COISAS E SAIA DAQUI AGORA!
Ele vestiu a calça e pegou uma mochila que estava jogada num canto do quarto, a blusa e os sapatênis e saiu as pressas.
- E quanto a você, Caetano... Que decepção! - Maysa bateu a porta com toda a força que a parede pareceu estremecer por alguns instantes.
Entrou em seu quarto, trancou a porta e abriu a torneira da banheira. Enquanto esperava encher, se debruçou sobre os travesseiros na cama e começou a chorar convulsivamente. Afinal, o que estava acontecendo? Não sabia mais quem era seu irmão, afinal?
- Maysa, abre a porta - Caetano chamou em tom baixo
- Vai embora! - respondeu, chorosa
- Por favor, vamos conversar...
- Eu não tenho nada pra falar com você
- Isa, minha irmã...
- Eu não sou mais sua irmã. Vê se esquece que eu existo!
Com isso, Caetano desistiu de conversar e voltou para o quarto.
Quando a banheira já estava quase cheia, Maysa se afundou na água, como que para tentar fugir daquilo tudo. Não sabia lidar com o fato de que seu irmão era homossexual.
Sempre pareceu algo tão normal, tinha amigas que tinham parentes assim. O irmão mais novo da Júlia, por exemplo. Mas aquilo não parecia ser tão normal quando se tratava do seu irmão. Desde quando? Ele nunca aparentou, afinal. E eles sempre foram tão unidos. Por que ele nunca contou? Por que não teve confiança na irmã para se abrir com ela?
Tudo aquilo ia martelando na cabeça de Maysa e nem a água quente conseguia fazer com que a sensação de perda de chão passasse.
Já enrolada no roupão, pegou o celular e viu algumas chamadas perdidas de Cadu.
Enviou uma mensagem dizendo que já estava em casa. Ele respondeu na mesma hora, perguntando se estava bem e como estava seu irmão. Respirou fundo, afinal de contas, ele não tinha nada a ver com aquela situação absurda. "Tô bem, te ligo a noite. Beijo", foi o que conseguiu responder.
Quando a fome apertou, saiu na ponta dos pés até a cozinha. Colocou no micro-ondas uma lasanha dessas congeladas. Lembrou do irmão, então dividiu-a no meio quando já estava pronta. Pegou uma lata de refrigerante na geladeira e uma barra de chocolate que tinha escondido detrás do armário. Colocou numa bandeja seu prato, talheres, guardanapo, o refrigerante com canudinho e o chocolate.
Ao virar-se para voltar para o quarto, Caetano a observava da porta.
- A gente pode conversar?
Maysa deu de ombros - Não tenho nada pra conversar com você. - e saiu.
Antes que ele conseguisse chegar perto, ela já entrara no quarto e se trancou novamente.
Agora, já com o estômago cheio, Maysa começou a distinguir um, dentre os vários sentimentos que a envolviam naquele momento: sentia-se traída.
E apesar do chocolate que comia com voracidade, o gosto daquilo tudo era bastante amargo.

Ninguém disse que era fácil
É uma pena nós nos separarmos
Ninguém disse que era fácil
Ninguém jamais disse que seria tão difícil assim
Oh, me leve de volta ao começo

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