Doce Veneno - Capítulo 14



 E agora, o que eu vou fazer?
Se os seus lábios ainda estão molhando os lábios meus?
E as lágrimas não secaram com o sol que fez?
E agora como posso te esquecer?
Se o teu cheiro ainda está no travesseiro?
E o teu cabelo está enrolado no meu peito...
 
Maysa sentiu o peso nos olhos ao tentar abri-los. Era difícil manter o foco em alguma coisa quando tudo em volta parecia branco e opaco. Aos poucos ela ia recuperando as sensações. Sentiu que estava deitada, sentiu as pernas, os braços, a cabeça... Conseguiu finalmente fixar os olhos no próprio corpo. Viu os hematomas que escureciam as poucas partes do corpo que ficavam a vista debaixo do lençol branco. Viu que a perna direita estava engessada por cima do lençol. Depois começou a olhar em volta.
Viu então seu pai sentado numa poltrona reclinável. Com a barba por fazer ele parecia mais velho do que realmente era. Fazia tanto tempo que não o via assim de perto. Os cabelos brancos estavam mais presentes e, apesar de uma leve barriga se formar, percebia que o rosto estava mais magro. As profundas olheiras davam ideia de que ele não estava dormindo bem há algum tempo.
- Pai - conseguiu finalmente dizer
- Oi, filha. Que bom que você acordou - respondeu com sua voz grave, mas carinhosa
- O que houve?
- Bem, pelo que eu fui informado, você foi jogada da escada por uma colega de faculdade - sua voz ficou mais tensa e, ela percebeu que seu rosto ficou mais tenso que antes
- Acho que eu me lembro... Há quanto tempo eu estou aqui?
- Desde sua entrada no hospital até hoje... um mês
- QUÊ?
- Brincadeira, filha. Na verdade tem uma semana. Você chegou aqui desacordada. Ligaram para o Caetano e me ligou. Eu pensei que não fosse tão grave. Mas além de quebrar a perna, você teve uma pancada muito feia na cabeça. Então eu acabei tendo de vir. Ficamos muito preocupados, porque você só abria os olhos e fechava. Os médicos não falavam que fosse algo perigoso, mas eu senti um medo muito grande quando te vi naquele estado. Foram feitos vários exames pra tentar detectar alguma coisa. Ao mesmo tempo que não dava nada, você não acordava.
- Pai, ela acordou? - Caetano entrou devagar no quarto e se espantou ao ver o pai conversando com a irmã - Maysa? Ai que bom que você acordou. Nossa! - e aproximou dela para lhe dar um beijo na testa.
- Oi Caê.
- Meu Deus, Maysa, o que foi isso?
- Acho que você tá perguntando pra pessoa errada. Eu só fui arremessada escada a baixo, mas a quem a gente deve todo o crédito é a Nathalie
- Como é que você vai na casa de uma pessoa buscar briga? Não que eu concorde com o que ela fez, de forma alguma. Mas você também estava errada.
- Vai defender a psicopata loira agora, é isso?
- Filha, não se exalte. E Caetano, deixa sua irmã em paz. Não quero saber de discussão entre vocês dois, me entenderam?
- Então avise pro seu primogênito que não venha me dar sermões
- Tudo bem.
Maysa teve que ficar mais dois dias no hospital para poder se recuperar e ir pra casa. Como não estava conseguindo se manter acordada, teve que se alimentar de soro todos esses dias. Então precisava se fortalecer, voltar a comer pouco a pouco para, então, ter alta.
- Já tô cansada disso aqui. Que dia eu posso ir embora, doutor?
- Maysa, você tem que ser paciente. Porque você ainda está um pouco debilitada. Mas no máximo dois ou três dias eu devo te liberar.
- Tudo isso?
- Tudo isso. Aproveite pra se recuperar o máximo que conseguir, mantenha repouso e nada de se exaltar.
No mesmo dia, ela recebeu visita de Julia, Fernanda e Rebeca.
- Nossa, amiga, que loucura foi essa? - perguntou Rebeca, com os olhos arregalados
- Pra você ver quanto eu sou amada por essa garota.
- Isa, você não fez certo de ter ido lá e agredido a menina, mas isso não deu direito dela fazer o que fez com você. Que menina louca! - acrescentou Nanda
- A cena foi lamentável. Principalmente quando ela se vingou te empurrando na escada. Cês não têm ideia do que eu passei quando vi a Maysa despencando lá de cima e, quando eu fui tentar socorrer ela estava desmaiada. Nossa, gente! Foi horrível te ver daquele jeito, amiga. Eu não sabia se eu chorava, se gritava com a Nathalie, se pedia socorro. A sorte é que a mãe teve reação e ligou rápido pra emergência. Eu vim na ambulância contigo e sua pele estava muito pálida. Pensei que você fosse morrer... - a voz de Júlia saia fraca e uma lágrima brotou dos seus olhos azuis
- Credo, Julia, vira essa boca pra lá! - retrucou Rebeca
- O  importante é que você está se recuperando, amiga. É muito bom te ver! - disse Fernanda
- Obrigada meninas. E principalmente, obrigada Ju. Eu sei que você deve ter sofrido bastante comigo. Não queria que você tivesse passado por um momento tão sofrido, mas te agradeço do fundo do meu coração pelo seu carinho e sua amizade. E pelo carinho e amizade de todas vocês.
Mais tarde, quando as amigas já tinham ido embora, Maysa recebeu outra visita.
- Oi, posso entrar?
- Oi Cadu, pode sim.
Ela percebeu que o quanto que ele estava tenso. Na verdade, parecia aterrorizado ao vê-la.
- Eu vim aqui outras vezes, mas cê estava dormindo.
- Quantas vezes?
- Err...
- Fala, por favor
- Todos os dias, desde que você está aqui. - Ele se aproximou da cama com um buquê de flores e uma caixa de bombons - Achei que você ia gostar - disse, deixando os presentes na mesa ao lado da cama. Seus olhos percorreram rapidamente o corpo de Maysa e ela percebeu que ele tentava analisar se ela estava mesmo bem.
- Eu tô bem, Cadu
- Fiquei tão preocupado com você... Eu não ia me perdoar se algo te acontecesse.
- Olha, eu tô bem aqui. Não precisa ficar assim, por favor.
- Maysa, cê tem ideia do medo que eu tive de te perder? Do pavor que eu senti ao saber que você tava desacordada? E, pior que isso, de saber que tudo isso foi por minha culpa?
- Sua culpa?
- Sim, minha culpa. Se eu não tivesse dito tudo aquilo. Se eu não tivesse pedido um tempo. Se eu tivesse sido mais sincero contigo. Se eu tivesse expulsado aquela garota do meu quarto antes mesmo dela entrar. Se eu tivesse voltado contigo do Rio assim...
- Cadu, olha, por favor, para de se culpar.
- Não, Maysa, eu...
- Olha, eu que escolhi ir atrás da Nathalie e eu que bati nela primeiro. Claro, ela foi covarde ao ter me jogado da escada, porque eu já tava de costas, mas, de certa forma, eu busquei isso. Independente do que você fez ou deixou de fazer.
- Mas eu...
- Mas nada. Deixa eu te ver direito, por favor...
Ele se aproximou do seu rosto e ela viu que ele também estava com olheiras profundas e o rosto mais magro que o normal.
- Me desculpa por ser tão inconsequente. Me desculpa por ser tão nervosa e explosiva a ponto de te afastar de mim.
- Maysa, eu...
- Cala a boca, deixa eu falar. Opa. Acho que é efeito de eu ter ficado uma semana dormindo. Mas a verdade, Cadu,é que eu descobri que você é mais que um cara gato, gostoso e rico. Eu sempre te vi como alguém com quem eu nunca teria nada além de uma amizade colorida. E você me mostrou que você é muito mais que um corpo bonito. Você acreditou em mim, me apoiou, me deu carinho e respeito. Muito mais que eu merecia, inclusive. Mas nunca desistiu de mim. E eu nunca pensei que eu ia dizer isso pra você, mas eu descobri que eu te amo. De uma forma completamente nova de todas as outras. E que se você quiser terminar comigo, eu vou sofrer muito, mas eu vou aceitar. Eu sei que...
- Agora quem diz cala a boca sou eu - e encostou com toda a delicadeza seus lábios sobre os dela - Eu te amo, Maysa. Desde sempre. Mas ainda mais agora por saber que você sente o mesmo por mim. - e beijou-lhe, novamente, com toda a ternura.

Espero que o tempo passe
Espero que a semana acabe
Pra que eu possa te ver de novo
Espero que o tempo voe
Para que você retorne
Pra que eu possa te abraçar
E te beijar de novo

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