Desenrola (Capítulo VI)

 
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Incrível como nada que é bom em minha vida dura por muito tempo.
Já se faziam quase seis meses de namoro, e eu, como burra que sempre fui, achava que seria sempre assim.
Pra variar meu pai se acidentou feio e eu tive que voltar pra casa pra cuidar de sua  perna quebrada por quase um mês. Minha unica sorte, ou meu azar maior, era que a faculdade estava de férias.
- Tem certeza que você não quer que eu vá? - Renato parecia quase suplicar ao dizer isso
- Tenho, meu bem. Não vai ser bom pra você passar as férias comigo desse jeito, ainda mais porque eu vou passar o maior tempo cuidando do meu pai, e quase não vou te dar atenção...
- Mas eu não me importo.
- Mas eu me importo, e quero que você fique, tá? Não quero que fique magoado comigo, porque eu te amo muito, mas é por uma emergência, só isso, e se eu conseguir alguém que possa cuidar de meu pai eu posso até tentar vir um pouco antes.
- Tá bom então. - ele baixou seus olhos profundos e tristonhos, com aquele ar de derrota, mas eu não podia ceder, pelo menos não dessa vez.
Ele me levou no outro dia até o aeroporto, e ficamos aguardando o meu vôo.
- Você vai sentir minha falta, Rê?
- Vou tentar não pensar muito nisso...
- Em que?
- Em sentir sua falta.
- Hum...
- Porque já comecei a sentir desde o momento em que você disse que iria embora.
- Mas eu não tô indo embora, meu amor, só vou por uns dias.
- Eu sei, eu te amo, Mel. Não se esqueça nunca disso.
Aqueles olhos me impediam de ouvir até mesmo a chamada para meu vôo.
- Tenho que ir, te amo.
- Eu também. - me deu um longo beijo e me abraçou o tão forte quanto pôde.
Cheguei em casa e parti direto pro hospital, meu pai estava internado ainda repousando da cirurgia que fizera na perna quebrada.
Mandei uma mensagem de boa noite pro Rê e recostei na cadeira da sala de espera, onde acabei dormindo.
- Senhorita Melissa?
- Ah sim, sou eu.
- Seu pai já se encontra no seu quarto. Queira me acompanhar, por favor?
Segui por alguns corredores e logo vi alguém com uma perna engessada esticada.
- Oi pai.
- Oi minha querida.
- O que você aprontou dessa vez hein?
Ele me contou da história, que tinha caído da escada enquanto trocava a lâmpada. 
- Incrível como a idade atinge as pessoas haha E quem tá cuidando de você, por enquanto?
- Ah, sua tia fez questão de me encher a paciência desde que eu vim pro hospital. Acho que ela foi descansar um pouco, nem te viu chegar.
Ele não passou mais de dois dias no quarto do hospital, e já levou alta.
Passei uma semana até que ele pudesse levantar com apoio das muletas. E o engraçado é que ele até aprendeu rápido a manuseá-las.
Renato me mandava mensagens todos os dias, principalmente pela noite, quando a saudade parecia ser mais intensa, tanto pra ele quanto pra mim.
Uma tarde, enquanto eu descansa ao ouvir meu bom e velho som, a campainha tocou.
Quando abri nem acreditei: Lucas, meu melhor amigo, meu primeiro namorado, meu parceiro, meu tudo.
- Hey, será que uma tal de Melissa ainda se encontra por aqui?
Nem deixei ele me avaliar muito e abracei-o com toda a força.
- Vai me sufocar mesmo, garota?
- E você? Nem sentiu minha falta, nem nada. Pra que veio?
- Ah, você sabe, minha mãe sempre te amou como nora, então né...
Ele entrou e ficamos horas conversando, como sempre.
Lucas tinha sido meu melhor amigo, e meu primeiro namorado. Foi até eu ter que me mudar, e por minha decisão, apesar de que no fundo eu sabia que ele nunca aceitara completamente isso, continuava com relações com ele, de amizade.
- E como você tá? Namorando muito?
- Você me abandonou e desde então eu prefiro ficar sozinho mesmo.
- Ah, para de drama Lu. Não rolou nada mesmo?
- Se eu te falasse que eu fiquei...
Meu pai entrou na sala com um sorriso de mais de metro ao vê-lo ali comigo, mesmo com as muletas meu pai conseguia ser insuportável.
- Meu Deus! Meu genro!
- Ah pai, para com isso. Você sabe muito bem que eu... - Lucas pareceu não entender minha reação - tenho namorado agora.
- Problema é seu, minha filha. Ele sempre vai ser o meu genro favorito.
Ele parou um pouco, abraçou Lucas e fez algumas perguntas, nada de mais. Depois seguiu de volta para seu quarto.
- Você tá namorando, Melissa?
- É, tô.
- Há quanto tempo isso?
- Tem quase seis meses.
- Ah... - e mesmo com um olhar triste, ele parecia ter alguma esperança em relação a mim.
Alguns dias depois, ele me deu uma notícia ótima: arranjara alguém para auxiliar meu pai na casa, e assim eu poderia voltar.
- Será que, eu posso ir conhecer sua nova vida?
- Sim, porque não? Vai ser ótimo! Eu vou te levar nas bibliotecas, no shopping, no meu café! Você vai amar!
Fomos dois dias depois. Mandei uma mensagem para o Renato, mas falei que ele não precisasse se preocupar que eu pegaria um táxi.
Mas como sempre, ele não me ouviu.
E quando eu peguei minha bagagem e o Lucas, por mera coincidência me pegou pela cintura, lá estava ele com os olhos fixos em minha cintura, analisando o que aquilo poderia significar.
Eu tirei o braço dele de leve dali e sai correndo para abraçá-lo.
- Meu amor, que saudade!
Ele me abraçou com força, como se eu estivesse deixando-o novamente
- Eu senti tanto a sua falta, você nem faz idéia do quanto.
- Ei, não vai me apresentar seu love não é?
- Ah, sim Lu. Amor esse aqui é o Lucas, meu grande amigo de  infância e de todas as horas.
- Olá.
- Olá, sou o Renato, namorado da Melissa. - ele pareceu frizar com uma certa intensidade a palavra namorado, mas relevemos.
E foi aí que eu descobri o maior defeito que o Renato poderia guardar de todos: seus cíumes de mim.
(continua)

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