Doce Veneno, Capítulo 13

Parece uma rosa. De longe é formosa
É toda recalcada. A alegria alheia incomoda
Venenosa! Êh êh êh êh êh!
Erva venenosa... Êh êh êh êh êh!
É pior do que cobra cascavel
O seu veneno é cruel

- Maysa, cê tem certeza que quer fazer isso? - Júlia estava com as mãos no volante, em dúvida se deixava a amiga sair ou não do carro - Olha, eu vou fazer o seguinte. Eu vou contigo.
- Vai coisa nenhuma!
- Amiga, eu te conheço há tempo o suficiente pra saber que eu preciso ir contigo.
- Júlia eu não quero que você vá.
- Tô nem aí.
- Eu vou ficar de mal contigo.
- É o preço.
Júlia tirou o cinto de segurança e saiu do carro. - Você não vem?
Maysa saiu do carro com raiva e bateu a porta com toda força, mas a amiga fingiu que nada acontecera. Julia travou o carro e seguiu na frente.
- Boa tarde. Eu gostaria de falar com a Nathalie, moradora do décimo andar.
- Quem deseja? - perguntou uma voz rouca no interfone
- Julia, da faculdade.
- Aguarde um momento, por favor.
Depois de alguns minutos o portão se abriu e as duas seguiram para o hall do prédio de Nathalie.
- Jú, daqui eu sigo sozinha.
- Não mesmo, Maysa. Eu vou com você.
Ela revirou os olhos e entraram no elevador.
Quando chegaram, Maysa saiu com brutalidade do elevador e tocou a campainha.
- Boa tarde. A Nathalie disse que era pra vocês subirem.
O apartamento de Nathalie era um duplex absurdamente grande. Mas não necessariamente de bom gosto, pelo menos no que diz respeito à decoração. Numa sala ampla, que parecia ser a sala de televisão, a parede principal era vermelho escarlate, com um lustre imenso no centro do ambiente com detalhes coloridos nos pequenos cristais, lembrando mais uma boate. O sofá de couro era rosa choque e sobre ele ficavam várias almofadas em tons dos mais diversos. A TV era de uma imensidão absurda que só perdia para a cristaleira que ficava ao lado. No chão se estendia um tapete felpudo creme, aparentemente a coisa mais simples no que diz respeito ao excesso de cores daquele lugar.
Júlia apressou para que Maysa parasse de olhar para a sala e subisse os degraus antes que a amiga disparasse a falar do gosto duvidoso de quem decorou a sala.
Mas ficava um pouco difícil, já que ao subir as escadas, quadros imensos de Romero Britto e outros artistas que optavam pelo colorido estampavam as paredes.
- Meu Deus... - exclamou Maysa
- Se controle, Isa - respondeu Ju, tentando conter o riso.
Ao chegar nos ultimos degraus, conseguia-se visualizar o quarto de Nathalie. Nada que fosse muito diferente do que elas já tinham visto: uma cama king size povoada por imensos travesseiros de pena de ganso, ao lado de uma poltrona de couro cor de rosa choque. A parede principal também era rosa, cor que parecia permear o quarto como um todo.
- Olá Júlia. Sabia que você estava acompanhada, mas não imaginava que fosse você, Maysa. - disse Nathalie saindo do quarto, envolvida num roupão de seda rosa com plumas nas pontas das mangas e na barra.
- Bem, eu nunca teria que ter vindo aqui se eu não fosse realmente importante. - respondeu Maysa, se aproximando da rival - Sabe, Nathalie, eu fiquei sabendo que você deu em cima do meu namorado.
- O Eduardo? Na verdade, eu nem via muita graça nele.
- Não se faça de sonsa
- Ah, tá. Você tá falando do seu cachorrinho de estimação. Qual o nome dele mesmo? Cadu!
- Se eu fosse você eu media melhor as palavras para falar dele...
- Sim, querida, ele é o seu cachorrinho de estimação, ou pelo menos é assim que você o trata.
- Então você não passa de uma cadela no cio, não é mesmo, querida? - Maysa foi se aproximando de Nathalie, ficando a poucos centímetros da loira, que já não mantinha uma postura tão altiva quanto no início. - Olha aqui, quando eu namorava o Eduardo, era ele o seu alvo. Agora que eu estou namorando o Cadu, é atrás dele que você vai. Tô percebendo que seu problema não é com eles, mas sim comigo. Então eu vim aqui te perguntar, afinal de contas, qual é a tua, garota?
Nathalie ficou estática naquele momento.
Julia percebeu que as mãos dela tremiam e que Maysa mantinha os punhos cerrados, tamanha era a raiva que sentia.
- Você se acha o centro do universo, não é? - disse Nathalie, com a voz um pouco vacilante. - Eu gosto de homem! E uma coisa eu posso lhe dizer, você até que tem bom gosto nesse aspecto
- Bom gosto vai ser a minha mão na sua cara, sua piranha!
Maysa foi com tudo pra cima de Nathalie e se não fosse por Julia, as duas teriam rolado no chão.
- Isa, para!
- Julia me solta!
- Deixa ela vir, Julia. Deixa ela tentar fazer alguma coisa. Ela não é de nada mesmo. Nem namorado consegue manter quando eu tô por perto.
Nisso Maysa conseguiu romper a barreira feita pela amiga e num forte puxão de cabelo, jogou Nathalie de joelho. Com a outra mão, desvio-lhe vários tapas, que saíram com tanta força que, de pequenos cortes, via-se sangue brotando da pele extremamente branca de Nathalie.
- Minha filha! Solta ela, sua selvagem! - a mãe de Nathalie apareceu, intercedendo pela filha.
- É toda sua! - Maysa disse se erguendo e limpando as mãos - Isso é pra ela aprender que não se deve mexer com homem comprometido. Isso a senhora, com certeza, não deve ter ensinado muito bem a sua filhinha, o que é uma pena. - com um sorriso irônico, Maysa se virou para descer as escadas. Foi quando Nathalie, num súbito momento de raiva, levantou-se rapidamente e empurrou com força a rival, que saiu rolando escada a baixo.

De longe não é feia
Tem voz de uma sereia
Cuidado, não a toque
Ela é má, pode até te dar um choque

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