Olhei para a criança na minha frente. Ela parecia estar analisando qual das bonecas estava em perfeito estado, a melhor seria aquela que ela abraçaria, levaria para casa e a amaria durante um bom tempo, depois a esqueceria e procuraria outra boneca. Mesmo sabendo que o fim dessas bonecas ao meu lado sempre será o chão e o cruel esquecimento, eu as invejo com todo o meu ser! Cada partícula de porcelana do meu corpo sente inveja delas. Por que toda criança que me olha, escolhe a boneca ao meu lado ao invés de mim? Não somos todas iguais, afinal?
Um dia, quando um espelho no final da loja quebrou e eles mandaram entregar outro, foi quando eu percebi porque ninguém nunca me escolheu. Dois homens seguravam o pesado espelho até o final da loja, eles passaram por mim e eu pude ver pela primeira vez o meu reflexo, foi então que eu vi o quão horrível eu era.
Sou o pesadelo das fábricas de bonecas, pois sou seu pior erro. Nunca deveria ter sido encaixotada, afinal, quem me compraria? Tenho apenas um olho e onde deveria estar meu segundo olho, está um buraco preto e quebrado, meu rosto de porcelana, que deveria ser delicado e amável, está coberto de arranhões. Sou uma aberração imapaz de receber amor. Agora eu entendo porque todas aquelas crianças que passam por mim me olham assustadas. Eu sou um monstro, sou horrenda, um brinquedo de filme de terror, que se bobiar assustaria até mesmo o Chuck (o boneco assassino).
Não entendo por que nenhum funcionário me tira daqui, todos sabem que ninguém nunca me compraria, já que contrario a caixa em que me puseram. Na caixa está escrito coisas bonitas a meu respeito, mas quando alguém põe os olhos em mim automaticamente sente repulsa. Se eu tivesse lágrimas, seria assim que passaria meus longos e tristes dias dentro desta cruel caixa, chorando. Se eu pudesse falar... Ah, se eu pudesse falar... Já teria exigido que me tirassem deste lugar, que me guardassem bem escondida onde ninguém poderia me ver.
Meses se passaram e eu ainda estava ali, ao meu lado já não havia nenhuma de minhas irmãs. Todas foram compradas, apenas eu permaneci... A prateleira vazia estava sendo preenchida com outras bonecas, mais modernas. Percebi o quanto é triste a vida dessas bonecas, pois elas são obrigadas a falar o que a criança quer escutar e não o que seu coração de plástico ou pano realmente sente. Pelo menos eu podia ficar calada ao invés de mentir para fazer uma criança feliz.
Sou uma boneca quebrada, porém sou de porcelana fina, diferente de outras que foram feitas de plástico. Não minto, igual a muitas outras bonecas.
Só percebi meu verdadeiro valor quando uma criança finalmente me tirou da prateleira, não consigo descrever a felicidade que senti quando ela correu até sua mãe e pediu para me comprar. Confesso que não entendia por que ela estava me escolhendo, afinal eu estava quebrada. Sua mãe me olhou e disse "Filha, essa boneca está quebrada! Procure outra, olhe, aquelas ali falam!". A criança me olhou, seus olhos eram tão puros e cheio de amor para dar. "Mas, mamãe, eu quero esta.", insistiu a criança, ainda me olhando com amor. A mãe suspirou e por fim falou "Tudo bem filha, deixe que eu a ponha no carrinho. Procure outra boneca também". Fui passada para as mãos da mãe. Finalmente alguma criança me amou! Minha futura mamãe, saiu e foi procurar por outra boneca. Fiquei triste por me separar dela, mas tudo bem, sei que em breve ela estará brincando comigo, em breve eu estaria sendo amada...
Estava tão feliz, que não reparei quando a mãe da criança me pôs em uma cesta, onde haviam mais brinquedos igualmente quebrados como eu, que ficava em cima de um balcão. Acho que esta criança tem preferencia por brinquedos defeituosos. Não conseguia ver em que parte da loja eu estava, pois a frente de minha caixa estava virada para baixo, eu estava na escuridão, esperando ansiosa por minha futura mamãe chegar e me olhar novamente com amor. Esperei um bom tempo até que senti a cesta ser levantada, se eu tivesse movimentos na boca, com certeza estaria sorrindo verdadeiramente, diferente deste sorriso falso que puseram em mim. Não pude ver para onde estavam me levando, só estava animada porque finalmente seria retirada desta caixa. Mãos pesadas me viraram para cima, onde pela primeira vez pude ver o teto da loja, confesso que imaginava um teto em melhor estado, este parecia meio queimado... Vi a quem as mãos pesadas pertenciam, era um homem, provavelmente o pai da garotinha. Não consegui ver para onde ele estava indo quando me deixou em um tipo de esteira, o lugar era escuro, excerto por uma claridade que estava na minha frente. A medida que a esteira me levava para frente a claridade ficava maior, o lugar também era quente. Achei que estava no fundo da loja, onde o ar condicionado não funciona, e minha futura mamãe daqui apouco me tiraria desta esteira terrívelmente quente.
Chegou uma hora em que o calor aumentou, e eu entrei na claridade. Onde estava a única criança que me amou? Será que demoraria a chegar? O calor agora me machucava, mal conseguia ver com clareza o plástico de minha caixa sendo aberto. Mas não por mãos humanas como eu pensei, ele estava sendo derretido. Logo senti uma dor insuportável em minha pele de porcelana, a claridade laranja e vermelha estava me envolvendo completamente, meus cabelos loiros e enrolados caídos no ombro agora estavam queimados. Onde estava minha mamãe? Estaria eu sendo abortada? Não, minha futura mamãe não faria isso comigo! Então o que estava contecendo?
Sentia a claridade laranja esquentando cada parte do meu corpo, lutava com meus olhinhos que queriam se fechar. Será que minha mamãe demoraria a chegar? Acho que posso dormir um pouco enquanto ela não vem me buscar... Fechei os olhos e enquanto esperava minha mamãe, dormi eternamente.
Não se engane com o sorriso estampado no rosto de uma boneca. Isto não quer dizer que ela seja feliz.
Meses se passaram e eu ainda estava ali, ao meu lado já não havia nenhuma de minhas irmãs. Todas foram compradas, apenas eu permaneci... A prateleira vazia estava sendo preenchida com outras bonecas, mais modernas. Percebi o quanto é triste a vida dessas bonecas, pois elas são obrigadas a falar o que a criança quer escutar e não o que seu coração de plástico ou pano realmente sente. Pelo menos eu podia ficar calada ao invés de mentir para fazer uma criança feliz.
Sou uma boneca quebrada, porém sou de porcelana fina, diferente de outras que foram feitas de plástico. Não minto, igual a muitas outras bonecas.
Só percebi meu verdadeiro valor quando uma criança finalmente me tirou da prateleira, não consigo descrever a felicidade que senti quando ela correu até sua mãe e pediu para me comprar. Confesso que não entendia por que ela estava me escolhendo, afinal eu estava quebrada. Sua mãe me olhou e disse "Filha, essa boneca está quebrada! Procure outra, olhe, aquelas ali falam!". A criança me olhou, seus olhos eram tão puros e cheio de amor para dar. "Mas, mamãe, eu quero esta.", insistiu a criança, ainda me olhando com amor. A mãe suspirou e por fim falou "Tudo bem filha, deixe que eu a ponha no carrinho. Procure outra boneca também". Fui passada para as mãos da mãe. Finalmente alguma criança me amou! Minha futura mamãe, saiu e foi procurar por outra boneca. Fiquei triste por me separar dela, mas tudo bem, sei que em breve ela estará brincando comigo, em breve eu estaria sendo amada...
Estava tão feliz, que não reparei quando a mãe da criança me pôs em uma cesta, onde haviam mais brinquedos igualmente quebrados como eu, que ficava em cima de um balcão. Acho que esta criança tem preferencia por brinquedos defeituosos. Não conseguia ver em que parte da loja eu estava, pois a frente de minha caixa estava virada para baixo, eu estava na escuridão, esperando ansiosa por minha futura mamãe chegar e me olhar novamente com amor. Esperei um bom tempo até que senti a cesta ser levantada, se eu tivesse movimentos na boca, com certeza estaria sorrindo verdadeiramente, diferente deste sorriso falso que puseram em mim. Não pude ver para onde estavam me levando, só estava animada porque finalmente seria retirada desta caixa. Mãos pesadas me viraram para cima, onde pela primeira vez pude ver o teto da loja, confesso que imaginava um teto em melhor estado, este parecia meio queimado... Vi a quem as mãos pesadas pertenciam, era um homem, provavelmente o pai da garotinha. Não consegui ver para onde ele estava indo quando me deixou em um tipo de esteira, o lugar era escuro, excerto por uma claridade que estava na minha frente. A medida que a esteira me levava para frente a claridade ficava maior, o lugar também era quente. Achei que estava no fundo da loja, onde o ar condicionado não funciona, e minha futura mamãe daqui apouco me tiraria desta esteira terrívelmente quente.
Chegou uma hora em que o calor aumentou, e eu entrei na claridade. Onde estava a única criança que me amou? Será que demoraria a chegar? O calor agora me machucava, mal conseguia ver com clareza o plástico de minha caixa sendo aberto. Mas não por mãos humanas como eu pensei, ele estava sendo derretido. Logo senti uma dor insuportável em minha pele de porcelana, a claridade laranja e vermelha estava me envolvendo completamente, meus cabelos loiros e enrolados caídos no ombro agora estavam queimados. Onde estava minha mamãe? Estaria eu sendo abortada? Não, minha futura mamãe não faria isso comigo! Então o que estava contecendo?
Sentia a claridade laranja esquentando cada parte do meu corpo, lutava com meus olhinhos que queriam se fechar. Será que minha mamãe demoraria a chegar? Acho que posso dormir um pouco enquanto ela não vem me buscar... Fechei os olhos e enquanto esperava minha mamãe, dormi eternamente.
Não se engane com o sorriso estampado no rosto de uma boneca. Isto não quer dizer que ela seja feliz.
Por: - Ana Bia
Nossa, que texto lindo. Realmente me emocionei ao ler! Quantes vezes cometemos o erro de julgar as pessoas pela aparencia...
ResponderExcluirTem selos para você no Momentâneo.
Beijos
http://leontynasantos.blogspot.com/2011/03/selos-e-alegria.html
Nossa, muito bom seu texto.*_*
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